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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Histórico do Ceará – Mirim Vale do Ceará - Mirim


Ceará – Mirim está ligada intimamente com a cana de açúcar, que possibilitou um grande desenvolvimento na sua economia. A cana gerou a criação de trabalhos nem sempre livre, trazendo com sigo a escravidão, que foi um elemento característico do vale, devido aos seus engenhos. Cheio de riquezas, o vale do Ceará – Mirim possui em sua estrutura elementos culturais primordiais e importantíssimos para a identidade de seu povo. A partir da literatura local e de alguns trabalhos desenvolvidos, farei uma breve explanação sobre alguns pontos importante para constituição de sua História.
O povoamento do vale do Ceará – Mirim, iniciou-se nos primeiros tempos de colonização Portuguesa do Rio Grande do Norte, a ocupação processou-se lentamente nos meados do século XVII pela ocupação Holandesa. O núcleo do Vale era o povoamento de São Miguel do Guajiru, aldeamento indígena dos padres jesuítas elevada a condição de vila com o nome de Extremoz, em 1760. A cana de açúcar fez o vale prosperar e devido a este fato foi transferido em 18 de Agosto de 1855, da vila de Extremoz para a povoação de Boca da Mata, a qual passou a denominar-se vila de Ceará – Mirim.
É importante caracterizar a Igreja Matriz da Imaculada Conceição que é uma das maiores riquezas do município pela sua História e pela sua arquitetura. A pedra fundamental da Igreja Matriz de Ceará - Mirim, foi lançada em 21 de fevereiro em 1858, pelos senhores Luiz da Fonseca Silva, Bartolomeu da Rocha Fagundes, João Xavier Dantas, Francisco de Paula Soares da Câmara e o Frei Serafim de Catânia. A construção da Matriz de Nossa Senhora da Conceição começou a ser construída em 1858, pelo Frei Serafim Catânia, porém suas obras foram concluídas em 1900, ou seja, após 42 anos. Foi construída de acordo com o Engenheiro Mr. David Willians com recursos cedidos para província do Rio Grande do Norte e pela própria população local. (ASSIS, 1996)
A igreja foi Construída em um terreno doado pelo Coronel Manoel Varela do Nascimento (na época o futuro Barão de Ceará - Mirim) e pelo senhor Antônio Bento Viana dono do Engenho Carnaubal no ano de 1851. Por suas dimensões é a maior igreja do Rio Grande do Norte, medindo 57m de comprimento e 23 de largura. Foi construída com suas torres góticas e de base quadrangular e terminal em agulha, medindo 36 metros (apenas as torres) que só foram concluídas em 1894. O terreno onde a Matriz foi construída foi uma doação do futuro Barão de Ceará - Mirim na época, Manoel Varella do Nascimento e Antônio Bento Viana, senhor do Engenho Carnaubal. (ASSIS, 1996)
Em 1899 foram trazidos dois sinos de Bronze em um carro de boi, por dois jovens vestidos a caráter: fausto Varela e Heráclito Ribeiro Paiva. Um dos sinos pesa 40 arrobas, cerca de 600 quilos e foi doada pelo Coronel Onofre José Soares dono do Engenho Cruzeiro. O Outro com 200 arrobas , cerca de 300 quilos, este foi fruto das doações do povo. A inauguração da igreja se deu em 1901 com a subida dos sinos, na virada do século, tida como inaugural, estando registrada no marco encravado entre o primeiro e o segundo arco da nave principal. A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição é um edifício de arrojado projeto arquitetônico, construído de planta e em cruz latina, formada pela Capela-Mor e duas capelas laterais, cercadas por belos arcos plenos. (ASSIS, 1996)
Outras ofertas foram feitas por Josefa Cavalcante Rocha, o batistério, e por Dona Vitória Duarte Ribeiro a pia batismal em mármore. O sacrário em bronze chegou em 1951com a doação de Doutor Milton Varela. Segundo Madalena Antunes Pereira e Nilo Pereira o altar mor da Igreja Matriz foi espelhado no altar mor da Igreja de Nossa Senhora do Carmo em São Paulo no início do século XIX, hoje o altar é diferente. Os painés do teto foram pintados em 1912 por Rafael Furlter espanhol e restaurados por José Lemos. (Arquivo Municipal da Prefeitura de Ceará-Mirim).
De forma mais definida, em seu livro o “Oiteiro”, Madalena Antunes afirmou: O Altar-Mor era um verdadeiro milagre de altura construída em degrauzinhos, deixava ver no fundo belíssimo a cortina de veludo bordeau, presa aos lados por cordões em bolas de ouro com coruchevs góticos e colunatas douradas.
As portas principais foram edificadas em arco batido e a altura do coro 5 janelas em vergas retas, encimadas por vitrais em arco pleno, são almofadadas em folha de acanto, com colunas laterais em estilo jônico-simplificado; o frontão é triangular e está encimado por uma cruz latina, ladeadas por duas pequenas volutas rompantes. (ASSIS,1996).
Outro ponto importante é a ocupação açucareira no vale de Ceará – Mirim, que se deu graças à implantação da cultura canavieira, que de modo geral esta atividade tinha como elemento primordial o engenho, assim como, o trabalho escravo possibilitou seu desenvolvimento, este sempre seguindo o comando do seu senhor.
A produção da cana de açúcar no vale se desenvolve a partir de 1894 mantendo-se em prosperidade até meados de 1920, período em que se percebia a instalação de mais de cinquenta engenhos, nessa época Ceará – Mirim se destacava por ser o principal produtor de açúcar do Rio Grande do Norte, sendo responsável aproximadamente por 60% da produção. Nesse momento devido a grande demanda houve a necessidade de aperfeiçoar o sistema produtivo, em 1912 o governador Alberto Maranhão assinou um contrato com Julius Von Sohsten, negociante estabelecido m Pernambuco, para a instalação da primeira Usina Central, com o objetivo de desenvolver e modernizar a produção açucareira, adequando-as as novas exigências surgidas no mercado internacional. Este projeto Usina Central não foi realizada. No vale a partir de 1920 foram implantadas três Usinas de pequeno porte: A Guanabara, de propriedade de Antonio Basílio Dantas Ribeiro, a São Francisco, organizada no antigo engenho que pertenceu a Manuel Varela do Nascimento – Barão de Ceará – Mirim – e Ilha Bela, dos herdeiros de José Feliz Varela.
A escravidão no vale do Ceará – Mirim se acentua no século XIX em virtude da ampliação da produção açucareira fazendo com que o número de escravos começasse a crescer. Normalmente esses cativos vinham do Maranhão e eram desembarcados em Mossoró, Areia Branca e Macau, sendo estes vendidos aos grandes produtores de açúcar dos municípios de Ceará – Mirim São José de Mipibu, Goianinha e Canguaretama.
Durante esse período Ceará – Mirim se mostrou como grande importante centro da monocultura canavieira, devida a fertilidade de seu solo, que o proporcionou ainda a instalação de mais engenhos, diante desse crescimento a mão de obra negra era usada de maneira significativa, girando em torno de 3 mil escravos, sendo a maioria de origem angolana. Somente o Coronel Manuel Varela do Nascimento – o Barão de Ceará – Mirim – proprietário do antigo Engenho São Francisco, fundado em 1857, chegou a possuir mais de 200 escravos, tratados com severidade. Existiam aqueles que possuíam uma fama melhor por manter uma relação mais amena com seus escravos, em especial dos domésticos, era o caso do Tenente-coronel José Antunes de Oliveira e Victor de Castro Barroca.
Durante a segunda metade do século XIX, a quantidade de escravo foi diminuindo no município. Em 1855 eram apenas 1.126, pois com a lei Eusébio de Queiroz, de 1850 proibiu-se o trafico negreiro, outro fator que motivou essa diminuição foi a seca de 1877, que em todo o Rio Grande do Norte obrigou muitos senhores a venderem seus escravos para outras provinciais. Por fim, com a campanha abolicionista, a partir de 1880 o número de negros em Ceará – Mirim segundo dados da sociedade libertadora Norte Rio-grandense de 30 de Junho de 1884 era somente 777, caindo para 201. Em Ceará – Mirim a luta pelo abolicionismo começou em 05 de fevereiro de 1888 com a fundação da sociedade libertadora de Ceará – Mirim, por Francisco Sales de Meire e Sá.
O engenho Mucuripe, fundado em 1935, por Ruy Antunes Pereira. O complexo Mucuripe é a reunião de três engenhos que também pertencem a Ruy Antunes Pereira que foram transmitidos a seus filhos: o Cumbe, o Oiteiro, e o Alagoa. Os dois primeiros não existe mais e o ultimo deu lugar ao Mucuripe, chamado pelo seu fundador de Mundo Encantado seu refugio na vida e na morte. Falecido em 1995, seu fundador foi enterrado a sombra de uma palmeira imperial que guarda o velho engenho que luta contra as transformações impostas pelo avanço da tecnologia. A concorrência imposta pelos produtos industrializados das usinas, durante a década de 1960 contribuiu para a diminuição de sua produção.
Em 1975, o Mucuripe passou por uma ampla reforma que modificou toda a sua estrutura incluindo o maquinário. Atualmente as dependências do engenho consiste em casa de purgar, um salão no qual fica a moenda, a caldeira e os tachos de mel, um deposito, um escritório, uma guarita e a destilaria desativada desde 1960.
A casa-grande que não é mais do primeiro Mucuripe, fica alguns metros do engenho e não guarda nenhuma das feições da primeira, transformadas a medida em que a modernização do engenho se impunha, conservando dos primeiros tempos apenas as dimensões e os alpendres que emolduram sua fachada.
Em 1960 vinte e cinco anos depois de sua fundação o engenho Mucuripe foi entregue a Ruy Pereira Junior, que até hoje junto com sua esposa está a frente de sua administração. A palmeira imperial que abriga as cinza de seu fundador continua lá, de frente para o engenho

No que diz respeito à educação no vale do Ceará – Mirim temos desde meados da década de 30 o colégio Santa Águeda, onde o mesmo faz parte da Congregação de Nossa senhora do Bom Conselho fundado por Frei Caetano de Messina, da ordem dos Franciscanos, que nasceu em Catânea (Sicília), na Itália, e que segundo a irmã Irene – na década de 80 era diretora da colégio - este deixou na Itália uma excelente estrutura. Em 11 de setembro de 1841, veio para a cidade do Recife trazendo um grupo de intrépidos missionários para proliferar a fé. No inicio Frei Caetano de Messina fundou em Bom Conselho um orfanato, e o lema do Frei era a “menina dos olhos dele” para proteger jovens que ficavam a mercê de fazendeiros e eram vitimas de abusos sexuais, este orfanato era destinado principalmente para moças pobres e sem instrução, a sua estrutura foi construída com a ajuda da população, pois o Frei Caetano de Messina não tinha muitos recursos, fundando a congregação com apenas quatro jovens freiras, que passaram a ensinar as jovens a bordar, corte e costura, e as primeiras letras. A instituição tinha o objetivo de passar uma educação fincada em bases religiosas, protegendo a integridade das moças que passaram a freqüentá-la auxiliando no desenvolvimento de sua formação.
O colégio Santa Àgueda fixou-se na região do vale do Ceará - Mirim com o objetivo de instaurar este sistema educacional com bases religiosa e disciplinar, para a formação das jovens da cidade. Este foi fundado em 14 de Abril de 1937 pelo decreto Diocesano de 26 de novembro de 1936
O Major José Onofre Soares transferiu o seu prédio para as irmãs, e a Madre Gabriela, religiosa da congregação que saiu de Bom Conselho, interior de Pernambuco com esta pretensão de repassar valores para a sociedade, sendo esta muito importante para o surgimento do Colégio, antes de ser diretora do Ginásio, administrou outros colégios da Congregação, a inauguração da instituição era velha aspiração do povo da cidade de Ceará – Mirim, e foi concretizada graças ao Sr. Mirabeau da Cunha Melo que na época era Prefeito da cidade que solicitou ao Bispo D. Marcolino Dantas que o ajudasse na implantação de uma escola religiosa dedicada a meninas, Vale salientar que as escolas religiosas foram implantadas pelo Bispo sendo vinculado a projetos sociais e isto era na época algo natural já que o governo não tinha muitas estruturas para investir na educação, este trouxe para o Estado do Rio Grande do Norte além do Colégio Santa Àgueda, outras instituições religiosas que cuidaram da educação religiosa dos indivíduos outros exemplos são, o Maristela, o Salesiano e o das Neves foram escolas que surgiram com esta destinação, o Padre Celso Cicco que estava à frente da paróquia de Ceará – Mirim também auxilio na implantação da instituição.
É possível perceber que o Colégio foi e continua sendo o único colégio da cidade voltado para um ensino religioso, aplicando seu ensino de maneira peculiar, seus conhecimentos voltados para a formação do indivíduo dando ênfase em sua vida religiosa como cidadão. O Colégio sempre se encontrou próximo a Praça Barão de Ceará – Mirim, mas o prédio não é o de sua fundação, este foi erguido no ano de 1953 com a ajuda de Café Filho importante político da época que exercia o cargo de vice-presidente da república e que após suicídio de Getulio Vargas em 24 de Agosto de 1954, se tornou presidente.
Em principio o Colégio funcionava como internato e recebia meninas de todas as regiões do estado, como de Poço Branco, Taipú, Canguaretama, e de todo o litoral. No internato existiam duas modalidades, o chamado “patronato”, que acolhia cerca de 45 meninas que não pagavam mensalidades e que diante desta condição tinham que ajudar nos afazeres domésticos, segundo a irmã Irene esta era única distinção entre estas meninas, pois o resto, como alimentação, estudos, momentos de recreio eram iguais as jovens da modalidade de “pensionato”, nesta as mensalidades eram destinadas a manter o funcionamento da instituição, tendo em média 53 meninas.
No colégio as internas aprendiam as primeiras letras e a serem boas donas de casa, aprendendo a cozinhar, bordar, costurar, e tinham ainda aulas de etiqueta, sempre alicerçado em bases religiosas, sendo possível notar as primeiras demonstrações de condicionamento a partir da preparação para serem boas donas de casa. As internas tinham regras e horários estabelecidos pela instituição, ao acordar rezavam e tomavam seu café da manhã e após este momento dirigiam-se as salas de aula, onde aprenderiam inúmeras atividades.














REFERÊNCIAS
ANTENES,Madalena. Oiteiro: Memórias de uma Sina- - Moça. Natal: A.S. Editores, 2003. 332p.
ARRAIS, Raimundo Pereira Alencar; MARINHO, Inalda de Araújo Bezerra; LUZ, Daianne Cristine Souza da. Ceará – Mirim: Tradição, Engenho e Arte. SEBRAE/RN, 2005.
FAGUNDES, José Evangelista. A história local e seu lugar na história: histórias ensinadas em Ceará – Mirim. 2006. 194p. Tese(Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós – Graduação em Educação. Natal, 2006.
MORAIS, Helicarla. Três rios dentro de um homem: Nilo Pereira em Imagens de Ceará – Mirim, 1929-1960. Natal/RN: EDUFRN,2009
RODRIGUES, Francisco de Assis. Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Fundação José Augusto. Natal, 1996.

2 comentários:

  1. Os três painéis pintados pelo espanhol em 1912 foram substituidos pelos painéis pintados por Justo Gonçalves e José Lemos (pai e filho respectivamente) na década de 1950. Em 2002 José Lemos pintou o novo painél da capela mor, substituindo o original do espanhol que ainda restava na igreja. Vou enviar para vc a foto da inauguração das torres e coloação do sino em 1901.

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